quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Bernardo Santareno


Bernardo Santareno, pseudónimo literário de António Martinho do Rosário (Santarém, 19 de Novembro de 1920 — Oeiras, 29 de Agosto de 1980) é considerado o maior dramaturgo português do século XX.
Formado em Medicina, com especialização na área de psiquiatria, Bernardo Santareno, pseudónimo de António Martinho do Rosário, foi um dos maiores dramaturgos portugueses. Tem sido corrente dividir a dramaturgia de Bernardo Santareno em dois grandes momentos: um que corresponderia às peças escritas entre 1957 e 1962 (A Promessa, O Bailarino, A Excomungada, O Lugre, O Crime de Aldeia Velha, António Marinheiro, Os Anjos e o Sangue, O Duelo, O Pecado de João Agonia e Anunciação), enquanto momento de "reflexão e busca de novas formas de expressão" (cf. REBELLO, Luiz Francisco - Posfácio a Obras Completas, vol. IV, Lisboa, Caminho, 1987, p. 388); nitidamente distinto de um segundo momento, inaugurado com O Judeu, marcado pela passagem de um esquema tradicional naturalista a um teatro brechtiano, amadurecido também na influência de Peter Weiss. A possibilidade de encadear, de forma não linear, no discurso de um narrador, o tratamento do tempo, conjugado com o recurso a modernas técnicas teatrais, como a utilização de vários espaços cénicos ou o uso dramático da luminotecnia, de efeitos visuais e sonoros, permite, então, subvertendo o modelo aristotélico, conseguir um acréscimo de sugestividade na transmissão da mensagem teatral. Entre estas duas fases, o traço de união parece ser a atenção prestada a um protagonista comum, "o povo português" (cf. id. ibi., p. 291), para o que concorre uma permanente articulação entre uma dimensão individual e histórico-coletiva na sua dramaturgia, ao mesmo tempo que, segundo Luiz Francisco Rebello, "Religiosidade e superstição, misticismo e erotismo, são os polos entrecruzados de um excruciante jogo dialético entre o bem e o mal, que se relativiza e torna cada vez mais concreto à medida que a obra progride e evolui no sentido de uma crescente consciencialização social." (id. ibi., p. 392), como se, ainda de acordo com o mesmo crítico, a incidência sobre a problemática da transgressão social, que seria objeto privilegiado a partir de O Judeu, não deixasse de conter em si a transgressão moral e frustração carnal abordadas em peças como A Promessa, O Crime da Aldeia Velha, João Agonia ou António Marinheiro. É certo, no entanto, que a eleição, desde 1962, de temáticas históricas com um alcance implicitamente didático permitirá uma utilização da "história como "máscara", à transparência da qual o passado devia ler-se como presente." (cf. id. ibi.), estratégia que, não passando despercebida pela censura, tornou-o um alvo da perseguição do regime salazarista, impondo sucessivas interdições de representação das suas peças. O profundo envolvimento na denúncia contra os atentados à integridade, dignidade e liberdade humanas atingirá um momento máximo de frustração e desilusão na peça de inspiração autobiográfica Português, Escritor, Quarenta e Cinco Anos de Idade, texto que, concebido como despedida do teatro e da vida, assume a forma de relato (individual, mas sem dúvida com um eco geracional) da forma como perdera todos os ideais, o entusiasmo e a esperança, entre a juventude e a vida adulta, atravessando as vias de martírio individual e coletivo do século XX português e europeu, chamadas Guerra Civil espanhola, Segunda Guerra Mundial, regime salazarista ou guerra colonial portuguesa. Depois da revolução de abril, desenvolveu uma intensa atividade na tentativa de reestruturação do teatro nacional, para a qual concorre com textos originais, coligidos em Os Marginais e a Revolução.


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